Adivinha quem resolvi “pular o carnaval”? – Eu mesmo! Estou escrevendo para vocês em um pleno domingão.
A relação do campo com a tecnologia
Vamos lá, muitos dizem por aí que o mercado das agtechs se diferencia muito dos outros justamente por conta da velocidade com que o produtor adota a tecnologia no campo, e começa a usar a sua startup que o “problema foi pensado” enquanto tomava cerveja e comia uma linguiça cuiabana, o que não deixa de ser verdade, o que muitas vezes falam por aí que, eu pelo menos não concordo, é que ele deixa de adotar por ser conservador e ter medo.
Você realmente acha que quem toma risco toda safra, e alavanca, e recebe todo dia um vendedor fajuto diferente no campo e as vezes testa o que ele leva, tem medo de ganhar mais dinheiro e impulsionar sua produção? – Não!
E é por isso que eles já usam tecnologia, mas em grande maioria, ainda não passaram a barreira do uso dos dados para a tomada de decisão.
Grande parte dessa tecnologia foi implementada a partir de um movimento top-down das grandes químicas, não porque o produtor parou e pensou – “Preciso tecnificar meus meios de produção!” – ou seja, ele teve um ponto de confiança para que ele percebesse o que fazia de antiquado e permitir que a solução chegasse no campo.
Voltando ao paralelo de medo x trustability
Agora pensa comigo, você colocaria cegamente algo ali que impactaria toda sua safra e pronto? – Também não! Por que paira a incerteza se aquilo realmente pode acontecer, dado que você não tem paralelos, ou parâmetros passados.
A adoção no mercado das agtechs é guiado por um único ponto: resultado e problema real!
Se o problema existe, o produtor tem realmente essa dor, e pode ver sua solução agindo de maneira tangível, seja no fim da safra, ou na DRE, ela vai ser adotada.
Para tangibilizar essa discussão, vamos idealizar 3 cenários:
Sua solução é: | Você resolve: | É mais caro do que o problema? | O que o produtor faz? |
Nice to have | Uma parte do problema | Não | Volta pro trator velho |
Nice to have | O problema inteiro | Não | Volta pro trator velho |
Must have | O problema inteiro | Não | Adota sua tecnologia |
Confecção, Thomaz Edmundo
Resumindo a tabela acima, se a solução não atinge o problema como um todo, ela não será adotada, da mesma forma, que se a solução não resolve uma dor que arde no bolso, ela não será adotada. Logo, o custo de oportunidade entre mudar e manter, tange para o lado de manter, dado que ainda temos o recobrimento da incerteza.
Tenha muita atenção ao disponibilizar o que está se propondo a fazer. Reflita. Isso é uma solução ou uma feature? É “legalzinha” ou é do c#!@lho?
Por que deveriam adotar?
Abaixo, coloco uma parte do Global Farmer Insights da McKinsey, uma pesquisa que vale aprofundamento, e como ela é de 2022, vamos usá-la para pontuar os drivers de adoção.
1. Adoção para aumentar a produtividade enquanto a safra está mais cara
Esse foi um dos argumentos que a McKinsey usou para basear o aumento do uso de tecnologias, com a seguinte afirmação:
“Os agricultores estão antecipando o uso de novos produtos focados na produtividade das colheitas e na proteção das plantações para aproveitar a oportunidade de preços elevados das safras.”
E seguido do gráfico abaixo,
Voltando ao assunto do trator velho, notamos no gráfico uma certa resistência do produtor mudar a maneira com que ele altera algo que já fazia para aproveitar oportunidades, ou seja, ele mantém fazendo o que já conhece naquilo que impõe mais riscos, e na outra ponta, ele tende a adotar outras soluções, que não imputem tanto riscos assim.
2. Adoção para a proteção de margem
E agora em 2024, podemos imaginar que o cenário passado se repita, mas em vez de adotar para aproveitar oportunidades, eles vão usá-la para proteção aos altos preços de insumos e redução do preço da saca, como é o caso de milho e soja.
E para isso vamos analisar um pouco o cenário das commodities, prometo ser sucinto.
Em linhas gerais, vemos alta da volatilidade e redução dos preços de 2022, momento em que a pesquisa da McKinsey foi feita, mas podemos pontuar alguns pontos que esse tipo de adoção acontecerá mais frequentemente em 2024:
- Espera-se que o fenômeno climático El Niño continue a impactar as colheitas na região sul do Brasil.
- Influência da competição internacional.
- Aumento do preço de subprodutos, e consequentemente, pressão de preço.
Com isso, USDA prevê queda de 7% em na produção de soja, CONAB divulgou aumento de apenas 1% na safra de algodão e milho lateralizando.
Ou seja, cenário para as commodities agrícolas brasileiras para 2023/24 é punk, com expectativa de redução na produção de milho, trigo, soja e possível pressão de alta nos preços destas commodities.
E a adoção de algumas tecnologias pode acontecer para a proteção da margem do produtor.
3. Adoção top down
Esse tipo de adoçao acaba sendo a mais comum, guiada pelos players maiores, e o nome ja é autoexplicativo: alguem te empurrou ela.
Normalmente acoontece quando se há relação com multinacionais ou outros players que já possuam uma adoção mais rápida de tecnologia para fazer com que o produtor use dela também a fim de facilitar o relacionamento de ambos.
Exemplos:
- Trator da CNH, com a tecnologia da BemAgro built-in; (Case New Holland empurrou);
- Agrônomo realizando venda consultiva de biológicos; (Quimica empurrou).
4. Adoção para otimização de processos
Aqui vou usar um pouquinho mais dessa pesquisa da McKinsey, e é bom deixar bem claro, que o fato do produtor indicar que irá adotar tecnologia não é a mesma coisa de que, de fato, adotar tecnologia.
Mas aqui podemos ver que o Brasil ainda tem bastante espaço para a adoção de sistemas de monitoramento, agricultura de precisão, sensoriamento remoto e tecnologias sustentáveis. Tecnologias que estão relacionadas, by the book, a otimização de processos.
Em minha percepção, é o tipo de adoção que mais precisa de um referral ou algum ponto de contato para trazer confiança, dado que interferem diretamente na principal linha de receita. (Exceto ESG, que por ter menos tangibilidade, eu sinto que será necessário uma ação externa para a facilitação).
É uma amostra pequena? – De fato.
Mas pode nos dizer muito com pouco.
Resumindo
Adoção no agro só acontece se a dor for real, e tiver resultado real no caminho.
Bom domingão!